Peritos recriam cena de crime no Iguatemi por campanha salarial
A
ideia do grupo foi trocar as manifestações comuns, com paradas de
trânsito e mobilizações em assembleias fechadas, por um método capaz de
mostrar à sociedade a importância da perícia criminal durante as
investigações
Peritos recriam cena de crime no Iguatemi por campanha salarial
Os peritos criminais da foto acima não são policiais
de verdade. O morto também não, bem como o fio de sangue em sua testa.
Mas, na manhã desta quarta (30), muita gente que passou em frente ao
Iguatemi achou que se tratava mesmo de uma cena de crime, isolada para
trabalho de investigação. Na realidade, era só um esquete criado pelos
peritos criminais do Departamento de Polícia Técnica (DPT) e encenado
por atores baianos, alguns deles integrantes do elenco de Capitães da
Areia, filme baseado na obra homônima de Jorge Amado.
Montar uma cena fictícia em plena manhã e em um dos
pontos mais movimentados da cidade foi a forma encontrada pelos peritos
criminais baianos para começar a campanha salarial da categoria. A ideia
do grupo foi trocar as manifestações comuns, com paradas de trânsito e
mobilizações em assembleias fechadas, por um método capaz de mostrar à
sociedade a importância da perícia criminal durante as investigações.
A ação foi baseada na simulação de uma cena de
homicídio. “Entendemos que, só neste ano, a sociedade foi penalizada com
três greves de serviços essenciais (policiais militares, professores
estaduais e rodoviários) e queremos amenizar essa penalização. A
população não deve sofrer por conta das nossas reivindicações”,
destacaou a presidente do Sindicato dos Peritos Criminalísticos da Bahia
(Asbac-Sindicato), Eleusa Santana.
A encenação também teve efeito educativo, mostrando
para as pessoas atitudes que acabam prejudicando a investigação
criminológica. Um dos maiores problemas enfrentados por peritos são os
curiosos, que ficam próximos às cenas de crime, criando tumulto e
atrapalhando a investigação. “As pessoas circulam pela área, muitas
vezes chegam perto das vítimas e acabam alterando o cenário do crime”,
afirma Eleusa. Para ela, falta informação. “As pessoas não recebem
instrução de como agir e de como nós precisamos trabalhar. Também por
isso resolvemos fazer esse trabalho”.
Um PM isolando a área e garantindo a preservação da
cena, uma delegada responsável pelas investigações, uma equipe da
perícia criminal e, é claro, um morto. A simulação procurou retratar um
pouco da realidade, mostrando a avaliação do corpo da vítima
assassinada, coleta de objetos e digitais.
Os desavisados foram pegos de surpresa, como o
sapateiro João Jorra, 27 anos, que acreditou estar em uma cena de crime,
quando a delegada (interpretada por Keila Queiroz) perguntou se ele
sabia de alguma coisa sobre o homicídio. “A gente fica meio assim, né?
Fiquei com medo quando ela me perguntou se eu sabia de alguma coisa,
porque eu não sei de nada”, disse, envergonhado.
Durante a preparação, os atores puderam sentir um
pouco da dificuldade do trabalho pericial. “O tipo de trabalho é
difícil, cansativo. Ouvir as instruções do perito, estar sempre atento
para poder fotografar tudo”, conta o ator Elcian Gabriel (o Almiro de
Capitães), que representou o fotógrafo. “Tivemos trabalho, porque são
muitos detalhes. Não é coisa para qualquer um”, avaliou Jordan Matheus
(no filme, o Boa Vida), que interpretou o morto.
“Agora consegui entender como funciona. Eles olham
detalhe por detalhe, procurando os motivos, como tudo começou”, conta
André Pereira, que já viu uma cena real de homicídio onde mora (São
Cristóvão). Com meia hora de apresentação, membros do Asbac-Sindicato
alcançaram a população e atraíram até interessados na profissão. Caso do
estudante Salomão Brito, 18, que agora pretende trabalhar com a perícia
criminal: “Vou ver o que preciso fazer. Gostei muito e quero seguir a
profissão”.
A única exigência para a campanha salarial do
Asbac-Sindicato é que o salário do perito seja equiparado a de um
delegado. “Durante a investigação, o perito e o delegado possuem o mesmo
nível hierárquico. Só queremos ser tratados e reconhecidos da mesma
forma que eles”, explica Eleusa Santana.
De acordo com ela, desde 2007, os delegados baianos
passaram a receber mais e ter uma progressão salarial maior que a dos
peritos criminais. “Passamos 30 anos tendo os mesmos salários. Agora a
diferença só aumenta. Queremos que as coisas voltem a ser como eram. E
vale lembrar que nós somos referência em todo pais”, afirma a presidente
do sindicato.
Á coordenadora do Laboratório de Genética Forense do
DPT, Tânia Gesteira, lembra que o departamento baiano está entre os
três melhores do Brasil. “Nós temos os melhores laboratórios do
Norte-Nordeste. Recebemos demandas de Sergipe, Rio Grande do Norte e
Pernambuco.
Além do Laboratório de Genética, temos outros
sistemas que são referência no país, como o Laboratório de Fonética,
nosso Sistema Afis, de identificação criminal, e o Sistema Abis, de
comparação de armas, projéteis e estojos”, explica Tânia, recém-
condecorada com a Medalha de Honra ao Mérito, dada pela Secretaria da
Segurança Pública da Bahia, em reconhecimento pelos seus serviços
prestados à sociedade.
Com informações de Fábio Araujo
http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/peritos-recriam-cena-de-crime-no-iguatemi-por-campanha-salarial/