Intuição e técnica são habilidades necessárias para o perito forense
Primeiro a chegar ao local do crime, seu trabalho é vital nas investigações
-Científica do Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
Qual a formação necessária para um perito criminal?
- Para atuar no Instituto de Criminalista, o perito tem que ser oriundo das áreas exatas e médicas, como engenheiros, físicos, químicos, biólogos, veterinários, contadores, entre outras formações. Quando o policial ingressa para atuar na perícia criminal, ele faz um curso de seis meses na academia, onde aprende noções gerais da profissão, para depois se especializar em sua área. Nesse treinamento, as ciências são aplicadas especificamente para as técnicas forenses. Na faculdade, o aluno não aprende, por exemplo, os conceitos da física no contexto de um acidente de trânsito, no qual é preciso calcular a velocidade e a força do impacto. Na graduação em Química acontece a mesma coisa. Nenhuma faculdade faz um direcionamento para o estudo de entorpecentes. Já no curso da academia de polícia há grande foco nesse tema.
E como o perito criminal se torna um especialista?
- Após o curso na academia, o perito passa a atuar com outros profissionais mais experientes, o que acaba por complementar sua formação. As lotações nas quais os novos peritos atuarão são definidas, em geral, com base na sua própria formação acadêmica. Há os peritos de locais, que vão até a cena do crime e coletam vestígios; os especializados em documentação, que trabalham com fraudes; os que trabalham com análise laboratorial, entre outros.
Como é o trabalho do perito na cena de crime?
- A função da perícia de local é tentar levantar todo vestígio inerente ao fato que está sendo averiguado, que pode ser de um assassinato a um acidente de trânsito, por exemplo. É preciso que o perito fique atento a todos os detalhes. O formato das gotas de sangue, pode determinar a altura de que caíram e a direção de onde partiu o projétil de uma arma de fogo, por exemplo.
Há outros vestígios como impressões digitais, manchas biológicas em geral, impacto de projétil de arma de fogo em determinado anteparo, algum suporte biológico, como copo, ou talher, que contenham material genético e deem pistas sobre o autor do crime. O perito de local deve interpretar esses vários vestígios da cena e interpretá-los para chegar à dinâmica do evento e tentar descobrir o que aconteceu. A academia de polícia ministra um curso para peritos que aborda somente mortes violentas.
No Brasil, as cenas do crime são presenvadas?
- Historicamente, a cultura de preservar o local do crime ainda não é respeitada no Brasil, inclusive por um certo despreparo de policiais e da população. Ou seja, antes do primeiro perito chegar ao local do crime, a cena, geralmente, já foi manipulada. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso não acontece, pois a população tem essa cultura de preservação do local. No caso de crimes, a Polícia Militar aciona a delegacia quando chega ao local e esta requisita a presença dos peritos. No laudo deve constar todas as alterações que a cena do crime sofreu antes da chegada do perito. No curso de peritos da academia de polícia existe uma disciplina só sobre preservação de local.
Que habilidades o perito deve desenvolver para executar seu trabalho?
- Quando falamos de peritos que executam serviços mais internos, incluindo atividades de laboratório, documentos, contabilidade, a sensibilidade vem com a prática, assim como em qualquer outra profissão. Ou seja, com o tempo ele vai se aperfeiçoando. Na perícia de locais não tem jeito. É preciso ter um pouco de dom para entender a cena do crime. É como se assistíssemos a um filme pelo final para entender o começo. É claro que há toda a parte técnica de interpretação dos vestígios, mas é preciso também ter o feeling para seguir o roteiro certo de pistas, e isso é uma característica que vai de pessoa para pessoa. A perícia criminal é uma profissão fascinante e desafiadora, em que nunca podemos dizer que já aprendemos tudo.
O perito pode desvendar um crime sozinho?
- Na verdade, esse é um trabalho em conjunto com a investigação. Se em uma situação de homicídio levanto a impressão digital do autor, estou dando autoria ao crime. A investigação pode até saber quem foi o autor de um assassinato, mas só a perícia pode comprovar de fato, detalhando se o tiro foi dado à queima-roupa e qualificando o ocorrido.
Um laudo emitido por um perito criminal do estado pode ser contestado?
- Certamente que sim. O juiz pode contestar qualquer laudo criminal. Nesse caso, é solicitada outra perícia a ser executada por um perito designado pelo juiz. Entretanto, é importante lembrar que um laudo emitido, mesmo contestado por uma autoridade judicial, jamais poderá ser retirado do processo.
Como é a estrutura do Instituto de Criminalista Carlos Éboli?
- O instituto conta atualmente com 270 peritos e esse ano abre outro concurso para o ingresso de mais 100 profissionais. A estrutura do ICCE conta de laboratórios de análise de crimes virtuais; de identificação de voz; de química, incluindo bioquímica, entorpecentes e venenos; de documentação, abrangendo a falsificação de dinheiro, documentos e outras cédulas; e de DNA, dentre outros.
Siga @tvguniversidade