A vítima de um homicídio foi um dos cenários de um simpósio que aconteceu hoje em São Paulo e promoveu a troca de informações e o aperfeiçoamento dos peritos criminais paulistas. A cena era de mentira, montada com um boneco, mas as explicações foram não só reais mas embasadas por quase 30 anos de experiência do perito criminal norte-americano Joseph Blozis, investigador aposentado da polícia de Nova Iorque e consultor forense da série norte-americana CSI (Crime Scene Investigation), que trata sobre as investigações da polícia de Las Vegas.
O 1º Simpósio Internacional de Local de Crime foi promovido pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC) de São Paulo. Nesta sexta tem mais, das 9 da manhã às 5 da tarde (veja “Serviço” abaixo).
Joseph Blozis trabalhou durante 29 anos no Departamento de Polícia de Nova Iorque e investigou milhares de cenas de crime, principalmente de casos de homicídio. É formado em Ciência Criminal pela Univesidade de St. John´s e já lecionou no Departamento Federal de curso de Investigação do FBI. Joseph tem formação especializada em investigações de homicídios, materiais perigosos e armas de destruição em massa.
O Simpósio
Em uma cena de crime fictícia, montada pelo Instituto de Criminalística de São Paulo, Joseph demonstrou o "passo-a-passo" de como é o trabalho de um investigador forense.
Durante o evento, ele falou sobre como é feita a preservação de local do crime; a cadeia de custódia, que é a manutenção e documentação da cronologia da evidência; a garantia de qualidade da preservação das evidências e provas do crime; o levantamento de vestígios no local do crime; como são colhidos os materiais para realização de DNA e a obtenção de digitais.
Blozis falou rapidamente sobre alguns casos interessantes, como o de O. J. Simpson, famoso ex-jogador de futebol americano e ator acusado de matar, em 1994, a esposa e o melhor amigo. O caso foi cercado de fatos curiosos e, segundo Joseph, contribuiu para a melhora dos processos investigativos e a regulamentação da perícia criminal da polícia norte americana.
O superintendente da Polícia Técnico-Científica, Celso Perioli, comentou que Joseph “ficou bastante surpreso com a proximidade das linhas de investigação de São Paulo com a que é realizada nos Estados Unidos”. Para Blozis, “há muitas semelhanças entre as formas de processamento de local de crime feitas em Nova Iorque e em São Paulo” (leia entrevista abaixo).
Recentemente, o Governo de São Paulo adquiriu equipamentos de alta tecnologia para aperfeiçoar ainda mais o trabalho já premiado da Superintendência da Polícia Técnico Científica paulista, considerada a melhor do país. Celso Perioli adiantou que os investimentos não cessaram: “Pretendemos trazer novos equipamentos ainda este ano e desejamos fazer uma padronização de linha de investigação de todos os estados do país”, revelou. Perioli é presidente do Conselho dos Dirigentes dos Órgãos Periciais do Brasil.
A vinda do perito criminal americano ao Brasil reforça o compromisso do Governo em proporcionar o que há de melhor para a formação e aperfeiçoamento dos nossos profissionais. Assim como aconteceu em Nova Iorque, em São Paulo os índices criminais despencaram na última década por diversos fatores, dentre eles, o reforço da investigação criminal e o reaparelhamento tecnológico da polícia técnico-científica.
Entrevista: Joseph Blozis
Portal SSP: Quais as diferenças fundamentais entre a perícia norte-americana e a paulista?
Joseph Blozis: Fiquei muito impressionado com o que Celso Perioli (superintendente da SPTC) me apresentou porque há diversas semelhanças entre as formas de processamento de local de crime em Nova Iorque e em São Paulo. A principal diferença é que, nos EUA, recolhemos evidências de DNA em todos os locais de crime. Esperamos que isso se torne uma realidade aqui em breve.
Portal SSP: Em que medida é preciso aperfeiçoar a perícia paulista para que melhore ainda mais?
JB: Será um tremendo avanço quando houver um banco de dados de DNA, uma ferramenta imprescindível para se analisar se houve crime e se uma certa pessoa suspeita é inocente ou não.
Portal SSP: O quanto é relevante a perícia criminal numa resolução de crime?
JB: A perícia numa cena de crime é de suma importância. Através das análises, é possível provar ou desqualificar um depoimento, buscar novas testemunhas e suspeitos. Por isso é que digo que o exame de DNA é fundamental para reter ou não um suspeito.
Portal SSP: Que caso famoso o senhor pode citar como exemplo em que a perícia foi decisiva para a condenação do suspeito?
JB: Um caso recente foi o de um assassinato múltiplo num restaurante de Nova Iorque. Não havia testemunhas mas, através de todos os vestígios coletados, como fibras e impressão digital, conseguimos resolver aquele crime.
Portal SSP: Há casos em que a perícia mal feita determinou a liberação do suspeito?
JB: Não me lembro de nenhuma falha que livrou um suspeito da cadeia nos 10 anos em que passei no Departamento de Polícia de Nova Iorque, mas houve um caso muito marcante, antes do programa CSI estrear na televisão, em que os jurados não acreditaram nas provas que havíamos apresentado. Eles pensaram, sem nenhum motivo aparente, que os próprios policiais haviam deixado as digitais no local do crime. O resultado é que o suspeito foi liberado e acabou absolvido das acusações.
Portal SSP: Tudo o que vai ao ar no programa de televisão CSI existe na prática? Se não, o que é possível vir a existir algum dia e o que não existirá tão cedo?
JB: A tecnologia é a mesma mas a grande diferença é o tempo. Na vida real, demoramos meses para conseguirmos alguns resultados mas, na TV, esse tempo não é respeitado, é instantâneo. No seriado, todas as evidências coletadas são analisadas na hora. O resumo é o seguinte: no CSI, os peritos conseguem resolver quatro homicídios em quarenta e cinco minutos, incluindo os comerciais. Na vida real, isso não acontece pois o tempo é muito maior.
Portal SSP: Que impressão o senhor levará consigo da perícia criminal paulista?
JB: A melhor possível. Notei o desenvolvimento dos laboratórios que existem na SPTC, os equipamentos em geral, a disciplina e a técnica dos profissionais. Achei tudo muito parecido com o que temos nos EUA.
Serviço
Quando: 30 de junho e 1 de julho, das 9 às 17 horas.
Endereço: Sede da Superintendência da Polícia Técnico-Científica, à rua Moncorvo Filho, 410, Butantã.
Contatos
Assessoria de Imprensa da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC): 11.3811-7030 ou 11.3031-1311
Cristiane Novais, Thiago Crepaldi e Adriano Moneta
http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/lenoticia.aspx?id=24846