Falta de pessoal vai afetar ação da PF na Copa em SP e no RJ, diz sindicato
Concurso em estudo prevê 1,2 mil vagas; sindicato julga necessário o triplo.
PF admite déficit; Ministério do Planejamento prevê aumento escalonado.
SP, Alexandre Santana Sally
(Foto: Roney Domingos/ G1)
Sally afirma que os estados mais afetados pelo déficit serão São Paulo, por ter o maior aeroporto do país, e Rio de Janeiro, por ser um destino turístico internacional. "O que fatalmente vai acontecer é o reforço das equipes destinadas aos grandes eventos e fatalmente vamos ter de desguarnecer o aeroporto. Podem ser prejudicadas investigações de entorpecentes, de contrabando, previdenciárias. Todos os setores podem sofrer consequências", diz.
O concurso publicado no Diário Oficial da União em 9 de dezembro de 2011 prevê criação de 500 vagas para agente da Polícia Federal, 100 vagas de papiloscopistas, 150 vagas de delegado, 100 vagas de perito criminal federal e 350 vagas de escrivão. Sally afirma que o concurso devia prever pelo menos 3,6 mil vagas para suprir as necessidades da Copa, principalmente em cidade como São Paulo e Rio de Janeiro.
De acordo com ele, se a falha não for corrigida agora, mesmo que sejam abertos novos concursos até 2014, não haverá tempo hábil para treinar pessoal. A abertura do concurso demanda pelo menos seis meses, além de outros seis meses para seleção de pessoal. Depois da contratação, são necessários pelo menos quatro meses na academia de polícia.
Procurada pelo G1, a Polícia Federal diz que historicamente precisa de mais servidores do que tem em seus quadros e que a aprovação do concurso com 1,2 mil vagas foi além do que tinha solicitado. Também informa que a contratação de pessoal esbarra em questões orçamentárias sobre as quais a decisão cabe ao Ministério do Planejamento.
O Ministério do Planejamento, por sua vez, informa que, no planejamento da força de trabalho da Polícia Federal para os próximos anos, estuda o provimento escalonado de vagas para o atendimento das necessidades do órgão e que as autorizações recentes para a Polícia Federal levaram em conta os quantitativos demandados pelo órgão e as políticas do governo gederal na área de segurança, tais como o Plano Estratégico de Fronteiras e o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas.
O ministério diz ainda que, em 2012, as prioridades do governo em relação à autorização de concursos públicos estarão focadas em educação, saúde, Previdência Social e segurança pública, bem como nos atendimentos dos Planos Brasil Maior e Erradicação da Pobreza e em grandes eventos, como Copa e Olimpíadas.
Sally afirma que pode haver uma precarização ainda maior dos serviços da Polícia Federal como o de imigração, com transferência das atividades para empresas terceirizadas. "O primeiro impacto vai ser na imigração. Hoje temos empresas contratadas, terceirizadas, fazendo serviço de imigração, o que está totalmente errado. Isso não está sendo previsto para esses grandes eventos. Não são policiais, ganham mal e o risco de acontecer alguma coisa indevida, como suborno, é muito grande. Há uma rotatividade muito grande desses funcionários e eles não são preparados para isso."
Segundo o sindicalista, a delegacia da PF em Guarulhos tem registros de terceirizados que foram presos em flagrante por receber U$ 50 para deixar um estrangeiro entrar no país sem visto. "É uma situação extremamente grave. Como não tem vínculo com o departamento e é mal remunerado, ele acaba vendo uma oportunidade. Como não é feito um perfil adequado de seleção - a PF não participa da seleção, é a empresa contratada que envia o funcionário -, o policial federal não sabe com quem está lidando. Alguns contratados têm senhas que alguns policiais não têm. Acabam fazendo uma vistoria na vida da pessoa que o próprio pessoal não consegue. O que vai acontecer na Copa do Mundo e em grandes eventos é a utilização dessa mão de obra terceirizada", afirma. A PF não se manifesta sobre a denúncia.
O sindicalista vê possibilidade de desmobilização ainda maior das delegacias. "Em São Paulo, tem delegacias com dois escrivães para atender todo o movimento da delegacia. Por causa disso, policiais acabam trabalhando em regime de sobreaviso. Durante 15 dias, o policial trabalha oito horas por dia e nos 15 dias seguintes ele fica nesse regime de sobreaviso, pode ser acionado a qualquer instante em feriados em finais de semana. Não pode viajar e não pode sair. É como se ele estivesse trabalhando 15 dias ininterruptamente. Em São Paulo, na delegacia fazendária, você chega a ter um escrivão responsável por 600 a 700 inquéritos policiais", conclui.
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/01/falta-de-pessoal-vai-afetar-acao-da-pf-na-copa-em-sp-e-no-rj-diz-sindicato.html