Antes das agências especializadas das Nações Unidas (FAO, PAM e IFAD) terem anunciado a relevante notícia sobre a queda percentual de 57,1 por cento, no período entre 1990 e 2012, no número total de subnutridos em Angola, já era conhecida a melhoria significativa dos principais indicadores antropométricos de subnutrição, entre 2001 e 2007, fornecidos pelo Inquérito Integrado sobre o Bem-Estar da População (IBEP) em relação às crianças até aos cinco anos de idade:
- Redução da taxa de má nutrição crónica (nanismo) de 45 por cento para 29,9 por cento, analisada pela relação entre altura/idade da criança;
- Redução da taxa de má nutrição aguda (marasmo) de 31 por cento para 15,6 por cento, analisada pela relação entre peso/altura, estando esta, à época, ainda presente de forma moderada em 8,2 por cento das crianças e de forma severa em 4,3 por cento das mesmas.
Segundo a Comissão Independente População e Qualidade de Vida, no seu relatório de 1998, intitulado “Cuidar o Futuro”, relacionados com a situação de pobreza no Mundo estão: as secas e as cheias, as guerras e os conflitos que acarretam posteriormente um elevado número de refugiados (obrigados a abandonar a terra onde residiam e trabalhavam). Estão também os problemas económicos, sociais e políticos, tais como: os baixos rendimentos, a má nutrição, a má saúde, a má habitação, a carência de educação, o desemprego crónico ou sub-emprego, a falta de informação, a falta de acesso aos serviços sociais, aos serviços jurídicos, a incapacidade para defender ou afirmar os direitos legais ou políticos próprios. “Na verdade, aos pobres é muitas vezes negado o acesso à compreensão legal ou política”, diz o relatório.
Mas a pobreza, na opinião da jornalista Sofia Miguel Rosa, no seu artigo “Fome volta a atacar”, tem ainda outras formas de se representar, como sejam: a falta de controlo sobre a própria vida e o próprio futuro, a humilhação de não ter nenhum poder independentemente dos efeitos corrosivos do desespero, do cinismo e da falta de fé no futuro, o facto de poder significar não apenas uma privação temporária mas uma privação repetida ou continuada, onde, na maior parte das vezes, são as mesmas pessoas que sofrem de várias (ou de todas as) privações.
O Relatório de 1992, intitulado “Uma Avaliação Global”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), refere que 786 milhões de pessoas sobreviviam, entre 1988 e 1990, em situação de subalimentação crónica. No período entre 1969-1971 previa-se que, ao final da década de 80, o número de subalimentados alcançasse cerca de 941 milhões. Na Ásia houve uma melhoria das condições de alimentação. Contudo, na América Latina, os números subiram de 54 para 59 milhões, enquanto em África se passou de 101 para 168 milhões de pessoas subnutridas.
Existia 1,2 mil milhões de pessoas que, ainda em 2000, sobreviviam com menos de um dólar por dia. Tal situação parecia já ter começado a mudar em pelo menos 43 países, cujos povos somavam 60 por cento da população mundial.
Contudo, como os elevados índices de crescimento populacional ocorrem em regiões de maior pobreza, rapidamente os dados se desactualizam.
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2002, previa-se a existência de cerca de 840 milhões de pessoas em situação de fome, 799 milhões das quais habitavam nos países em desenvolvimento, 30 milhões nos países em transição e 11 milhões nos países industrializados.
O quinto relatório sobre o Estado de Insegurança Alimentar no Mundo, divulgado em Novembro de 2003, pela FAO (SOFI 2003), denunciava o agravamento da fome no mundo, quando, até 2015, se pretendia reduzir para metade o número de pessoas que, por falta de emprego e de renda, não consomem alimentos e passam fome. Na sua maioria, de acordo com este relatório, “são mulheres e crianças, camponeses de tez escura, asiáticos, africanos ou índios”. A questão da elevada taxa de mortalidade infantil em Angola tem estado associada à má nutrição principalmente em crianças menores de cinco anos, o que não deixa de constituir ainda um sério problema de saúde pública. Durante a guerra civil, milhares de famílias viveram sem condições alimentares adequadas e em precárias condições de saneamento básico.
Desde o início da paz, em 2002, muitas acções foram realizadas pelo Governo e pelos seus parceiros com vista a eliminar a fome e má nutrição no país. É, sem dúvida alguma, o primado da paz e a procura incessante de estabilidade social, que, na relação causa/efeito, estão na base do sucesso de Angola no combate à fome.
* Ph.D em Ciências da Educação e Mestre em Relações interculturais