Pela primeira vez, você vai ouvir a própria assassina confessa, Elize Matsunaga, contar o que se passou naquela noite. A reportagem é de Valmir Salaro e Guilherme Belarmino.
As cenas foram gravadas 18 dias depois do crime. Elize Matsunaga, a assassina confessa, volta à casa onde morava com o marido e a filha. Na sala, ela conta ao perito criminal Ricardo Silva Salada os detalhes de como matou o empresário Marcos Matsunaga, com um tiro na cabeça, um crime sem testemunhas.
Elize: Eu arrastei ele lá para o quarto de hóspedes, deixei ele lá até o outro dia.
Perito criminal: Tá, e aí, depois, o que aconteceu?
Elize: Lá no quarto que eu cortei ele.
Começa a reconstituição. Elize fica sentada na mesa de jantar. Minutos antes do crime. Ela e o marido se preparavam para comer uma pizza. No papel de Marcos, um policial civil. Com calma e voz baixa, Elize só responde o que lhe é perguntado.
Perito criminal: Você começou falando do detetive, né?
Elize: É, que eu tinha descoberto.
Perito criminal: Que você tinha descoberto a traição dele? Você falou pra ele que tinha contratado um detetive particular.
Elize: Aí ele ficou alterado...
Perito criminal: O que ele fez? Ele estava sentado? Ele ficou quieto, ele levantou? Bateu na mesa?
Elize: Isso. Perguntou como eu tinha a audácia de fazer aquilo com o dinheiro dele.
Perito criminal: O que ele fez, assim?
Elize: Ele bateu na mesa e levantou.
Perito criminal: E depois? O que aconteceu?
Elize: Aí, a gente começou a discutir, ele começou a me xingar e aí me deu um tapa.
Perito criminal: Você estava sentada?
Elize: Não, eu levantei.
Perito criminal: Ele estava aí, quando te bateu?
Elize: Foi.
Na versão de Elize, depois de levar um tapa, ela sai da sala de jantar.
Perito criminal: E aí?
Elize: Aí, eu fui pra lá, no armário.
Perito criminal: E ele?
Elize: Ficou ali me xingando. Depois veio atrás.
Perito criminal: Por aqui?
Elize: Eu não sei.
Elize caminha até o bar. Pega a pistola na gaveta. A arma usada na reconstituição é de madeira. Ela percebe que Marcos vem em sua direção.
Perito criminal: Assim, como se você estivesse olhando ele vindo?
Elize: Isso. Mas ele não estava aparecendo. Eu só ouvi.
O perito criminal insiste nos detalhes.
Perito criminal: Aí você foi caminhando até aonde? Onde que você o viu?
Elize: Não, eu ouvi. Aí, eu vim pra cá.
Perito criminal: Quando você virou, você o viu, onde ele estava?
Elize: Aí.
Perito criminal: Ele estava caminhando ou estava parado?
Elize: Estava parado, porque eu acho que ele viu que eu estava com a arma.
O policial que se passa por Marcos mostra quais foram os últimos passos da vítima, na versão de Elize.
Elize: Aí eu apontei a arma pra ele.
Perito criminal: Então aponta a arma pra ele.
Elize: Aí ele começou a falar que eu não tinha coragem pra fazer isso, enfim e continuou vindo.
Segundo Elize, o assassinato foi no corredor mostrado no vídeo, na entrada do apartamento.
Perito criminal: Ele foi até onde?
Elize: Aí a gente foi discutindo. Eu fui dando passo pra trás, ele veio vindo devagar.
Ela conta que atirou na cabeça do marido.
Elize: Eu acho que foi aí. Aí, eu acertei.
O perito quer saber mais.
Perito criminal: Ele veio vindo e como é que estava a sua arma?
Elize: Estava apontada já. Mas não sei se ele viu antes.
Na história que Elize conta, ela estava a 1m94 de Marcos na hora do tiro. Essa distância foi medida pelos peritos.
Perito criminal: Ele te olhou, olho no olho?
Elize: Foi.
Perito criminal: E aí você atira nele nesse momento?
Elize: É.
O perito quer saber por que Elize matou o marido.
Perito criminal: Você fez uma coisa que ele estava com raiva e aí começou a te xingar. Aí você pegou a arma, ele ficou mais bravo ainda de repente. Foi isso que aconteceu?
Elize: Foi.
Perito criminal: Ele começou a te desafiar: ‘você não tem coragem, quero ver você fazer isso’. Foi isso?
Elize: Foi. Ele falou que era pra eu ir embora pra minha família e era pra eu deixar a filha dele aqui.
Elize diz quais foram as últimas palavras de Marcos.
Perito criminal: O que ele te falou, que você não aguentou mais essas palavras?
Elize: Falou que ia provar que não tinha condições de ficar com a minha filha e eu nunca mais ia vê-la.
Perito criminal: Você a chegou a ver os olhos dele quando ele falou isso?
Elize: Sim, ele falou com raiva.
Perito criminal: Você chegou a fazer mira nele?
Elize: Não, sei lá! Acertei.
Perito criminal: Atirou?
Elize: É, atirei.
As dúvidas continuam.
Perito criminal: Na hora que você foi atirar, que você fez assim para atirar, o que você viu na cara dele?
Elize: Ódio. Ele estava me tratando como se eu fosse um lixo.
Perito criminal: Você se sentiu ameaçada?
Elize: Senti, porque ele estava vindo pra cima de mim.
Perito criminal: Ele já tinha te batido ali, né?
Elize: Sim, eu achei que ele fosse fazer alguma coisa, pegar a arma, me bater de novo.
Perito criminal: Sim, podia até tirar a arma da sua mão, né?
Elize: Sim.
Perito criminal: Você pegou aqui e pum?
Elize: É.
Perito criminal: Você não fez assim visado.
Elize: Não, eu atirei, porque ele estava vindo pra cima.
Perito criminal: E aí o que aconteceu?
Elize: Aí ele caiu.
Perito criminal: Você se lembra de como ele caiu? Ele caiu pra frente, ele caiu pra trás, ele caiu para o lado?
Elize: Caiu pra trás.
A polícia usa um boneco no lugar de Marcos para reconstituir o passo a passo do crime.
Perito criminal: Aí, o que você fez?
Elize: Eu dei a volta por lá.
Elize caminha pela sala e coloca a arma em cima de uma mesa. Ela diz que pensou em ligar para polícia.
Elize: Eu cheguei no telefone, mas não chamei. Eu ia ligar e desisti.
Perito criminal: E depois?
Elize: Depois eu fui lá, peguei a arma e guardei.
Ela refaz os movimentos daquela noite. Guarda a pistola em uma sala onde o casal tinha uma coleção de armas. Em seguida, volta para perto do boneco simulando o corpo de Marcos.
Elize: Aí, fui na lavanderia peguei um pano e limpei.
Elize pega o material de limpeza.
Elize: Coloquei água e fui pra lá.
Ela mostra como tentou apagar os vestígios do crime.
Elize: Tinha muito sangue aqui. Eu limpei um pouco.
Perito criminal: Depois da lavanderia, o que você fez?
Elize: Aí eu não lembro se eu subi, se eu fui pro escritório. Eu fiquei perambulando.
Elize diz que esperou dez horas para esquartejar o corpo.
Elize: Depois eu vim, e arrastei ele.
Perito criminal: Vai lá. Pega. Como é que você fez?
Elize: Peguei pelo braço.
Antes de arrastar o corpo, Elize tira o tapete do caminho. Depois afasta uma cadeira e outro tapete. Carrega Marcos devagar e vai parando pelo caminho.
Elize: Numa dessas, eu lembro que eu sentei.
Ela passa pelo corredor até chegar ao quarto de hóspedes.
Elize: Não sabia se ia ligar pra polícia, se não ligava. Ficou um tempo aqui.
No final, Elize confirma onde esquartejou o marido.
Elize: É aqui. Ficou aqui.
O vídeo termina, mas nas fotos do laudo oficial, divulgado esta semana, Elize aponta onde fez os cortes. Depois, coloca os pedaços do corpo em três malas e sai para jogá-las na região de Cotia.
O promotor do caso, José Carlos Consenzo, contesta a versão de Elize. Lembra que o exame feito no corpo de Marcos indica que ele levou um tiro à queima-roupa e de cima para baixo.
“O laudo de corpo e delito que diz que o tiro foi a curtíssima distância em razão das lesões, das queimaduras do chamuscamento, então não foi a dois metros de distância, como ela disse. Essa distância curta significa que ele não teve a menor condição de defesa, é essa a questão”, afirma o José Carlos Consenzo.
Para José Carlos Consenzo, a proximidade do tiro prova que Elize planejou o crime e matou Marcos de surpresa. “A motivação, para mim, é extremamente clara. Ela não queria acabar o casamento e não queria ficar pobre. Ponto”, diz José.
A conclusão do laudo da perícia no apartamento confirma a versão de Elize.
Com um reagente químico, os peritos encontraram as marcas de sangue de Marcos, por onde Elize arrastou o corpo.
Para o advogado de defesa, Luciano Santoro, ela não mentiu ao contar todos os detalhes de como matou o marido.
Mas Luciano Santoro afirma que o outro laudo - o do corpo da vítima - não é preciso. “O legista fala que o tiro foi de cima pra baixo. Mas qual angulação? Nós estamos falando de cinco graus, nós estamos falando de 90 graus? Isso tudo influencia.
Elize matou Marcos porque ela não aguentou. Ela não aguentou a pressão que sofreu, não aguentou as ofensas, que desde três meses antes já tinham começado. Então, sob o domínio de uma violenta emoção, respondeu àquela provocação dele”
O processo contra Elize Matsunaga chega agora numa fase decisiva. O juiz do caso vai ouvir as testemunhas de defesa e acusação.
Em seguida, deve interrogar Elize, no mês de outubro, em um fórum da Zona Norte de São Paulo.
A previsão é que o julgamento aconteça no meio de 2013. Se condenada, Elize pode pegar até 30 anos de cadeia.
Assassina confessa, Elize diz que só tentou se defender. “Ele estava me tratando como se fosse um lixo. Eu atirei porque ele estava vindo pra cima”, diz no vídeo
http://surgiu.com.br/noticia/47528/imagens-mostra-reconstituicao-de-assassinato-e-esquartejamento.html