sábado, 29 de setembro de 2012
Perito da PF explica laudos e diz que caso Fernanda Lages sofre efeito CSI
28/09/12, 13:13
O chefe da perícia
criminal da Polícia Federal do Piauí, José Arthur Vasconcelos, explicou
hoje detalhadamente os laudos apresentados pela PF sobre a morte de
Fernanda Lages e afirmou que o caso tomou maiores proporções por conta
de um fenômeno que ele chamou de "efeito CSI".
Yala Sena/Cidadeverde.com
"Em
virtude da massificação da informação relacionada aos trabalhos da
perícia, verificada nos seriados americanos, há uma expectativa muito
grande da sociedade no trabalho investigativo. Todos os brasileiros
viraram investigadores. Posso dizer que aquilo que é visto nos seriados
tem relação, mas os vestígios nem sempre são identificados tão
facilmente e as possibilidades reais desse trabalho não são daquela
forma", explicou o perito.
Pegadas e depoimento do vigia
O
chefe da perícia reconheceu que o local da morte da estudante não foi
preservado, assim como as áreas adjacentes. Entretanto, a possibilidade
de uma pegada masculina utilizando tênis da marca Olimpus e número 42
foi descartada.
"Tivemos
dificuldade para identificar vestígios até mesmo fora daquela área
adentrada pelos populares e pessoal da Segurança. Um dos laudos
analisados buscou verificar entre as imagens do local se existia outra
pegada que pudéssemos isolar e marcar junto com o compasso do andar de
Fernanda, mas não encontramos nenhuma, nem mesmo próximo ao lugar onde
estava o veículo", explicou.
O
investigador voltou a afirmar que em todo o percurso Fernanda estava
sozinha e que o vigia Domingos Pereira não entrou em contradição durante
depoimentos à polícia. "O que se sabe é que, desde o momento em que ela
sai do [bar] Pernambuco até a precipitação, ela agiu de maneira
solitária. Fizemos análise das imagens do vigia e pela leitura da
verbalização dele tudo indica que ele, desde o começo, ele disse que viu
apenas uma pessoa entrando na obra".
Medicamento para enxaqueca
José
Arthur voltou a citar o remédio utilizado por Fernanda para um
tratamento contra enxaqueca. Nas investigações, a PF descobriu que em
abril de 2011, quatro meses antes da morte, a estudante fez uso das
substâncias nortriptilina, flunarizina, atenolol e piroxicam,
devidamente receitadas.
O médico procurado pela jovem teria receitado
120 cápsulas, mas ela tomou apenas 67 durante os quatro meses, o que
prova que o uso foi irregular. Na bula do medicamento, há informações de
que, se associado a álcool, as substâncias podem levar à ideação
suicida.
"O medicamento não pode ser tratado de maneira
objetiva e absoluta, pois os exames não propiciaram resultado positivo
para o medicamento. Também não posso dizer que Fernanda não poderia
tomar o remédio, porque isso só um médico poderia dizer. Mas,
conseguimos prontuário médico, cópia de receituário, registro na
farmácia que mostram que a compra do remédio foi regular", completou.
Apesar das informações na bula, a PF não
garante que o remédio provocou a morte de Fernanda. "Foi um achado
importante, que pode ter influenciado, mas não podemos afirmar
objetivamente", completou o perito.
Laudo da Polícia Civil X Laudo da Polícia Federal
Ainda
de acordo com o perito, o resultado apresentado pela Polícia Civil está
de acordo com o da Polícia Federal em alguns pontos e em discordância
em outros. Ambas as polícias chegaram às seguintes conclusões:
- Fernanda entrou sozinha na obra
- As marcas no parapeito são sinais de que Fernanda escalou a mureta
- A estudante teria utilizado tijolos para poder subir
- Ninguém ajudou Fernanda a subir no parapeito
- Não havia outra pessoa na cena do crime
- A universitária havia ingerido bebidas alcoólicas
A
Polícia Federal fez 400 exames e uma linha do tempo detalhada,
mostrando que seria impossível a presença de uma segunda pessoa no local
do crime. "No corpo de Fernanda havia uma leve raladura na altura do
umbigo, na virilha e entre as coxas, que indicam que ela fez esforço
para escalar a mureta. Se houvesse alguém com ela, não existiria essas
lesões, porque a pessoa teria ajudado Fernanda a subir", disse o perito.
Exames feito após a exumação do corpo
Pontos divergentes entre os relatórios:
-
Para a Civil, a marca no pé de Fernanda era uma mancha de sangue; a PF
verificou que se trata de um ferimento possivelmente provocado pelo
para-raio da mureta.
- Para a Civil, Fernanda pulou do mesmo
local que escalou; para a PF, ela caminhou pela mureta e pulou em
direção sul, em uma mureta perpendicular.
- Para a Civil a
estudante caiu numa distância de 4 metros da mureta; para a Federal, ela
caiu a mais de 5 metros, o que indica que ela pulou.
- A
Civil levantou suspeitas de machucados nas escadas, durante o percurso
até chegar ao quinto andar. A Federal afirmou que todos os ferimentos,
com excessão das raladuras na barriga e nas coxas foram causados pela
queda.
"Tivemos
avanços em relação as conclusões porque dispusemos de muito mais tempo.
Tivemos a condição de realizar exames muito mais apurados. Sabemos que
essas lesões foram produzidas em um momento único, não em sequência. A
marca no pé dela aponta que ela sofreu um pequeno ferimento no
parapeito, talvez provocado pelo para-raio. Isso faz com que não
descartemos a possibilidade de queda acidental, pois essa lesão pode ter
sido provocada pelo tropeço", ressaltou.
Fernanda arrumou o vestido antes da queda
O
chefe da perícia criminal da Polícia Federal do Piauí, José Arthur
Vasconcelos, reafirmou hoje (28), em entrevista ao Jornal do Piauí, que
os vestígios não deixam dúvidas sobre a causa da morte da estudante
Fernanda Lages, ocorrida em 25 de agosto do ano passado. O perito
comentou ainda o fato da perícia ter constatado que Fernanda ajeitou o
vestido antes de cair.
O
Jornal do Piauí mostra uma série de reportagens especiais sobre o
trabalho de investigação e laudos nunca mostrados pela imprensa.
Segundo
José Arthur Vasconcelos, a perícia trabalha com o "princípio da
transferência", que diz que um indivíduo ou criminoso, ao adentrar em um
local, deixa algo de si no local e ao sair leva algo do local. Com base
nesse princípio, os peritos da PF usaram material produzido pela
Polícia Civil do Estado e buscaram novas informações.
O
relatório produzido pela PF indica que os peritos não têm a menor
dúvida sobre o suicídio. Foram usadas na investigação as fotos da
polícia civil, que indicam que as marcas deixadas na mureta são
compatíveis com o calçado da estudante, um forte indicativo de que ela
escalou por vontade própria. Pela dinâmica da queda, a velocidade
atingida foi de 85 km/h. A perícia encontrou a perna e o vestido sujos
do lado direito, o que indica que Fernanda ficou em pé sobre a mureta e
arrumou o vestido. Ela estava calçada no momento do impacto.
"Não
podemos apreciar cada elemento separadamente, tem que ser colocado em
um contexto, como aquele evento transcorreu. A partir do que nos foi
repassado ou que vimos de maneira indireta nos relatórios e laudos da
Polícia Civil, bem como elementos obtidos pela Polícia Federal, como
fotografias da cena da morte, observações após a exumação do corpo.
Dentro desse contexto é que na dinamica proposta há essa condição, em
algum momento após a escalada e antes da precipitação, Fernanda tenha
alinhado o vestido", relatou.
http://www.cidadeverde.com/perito-da-pf-explica-laudos-e-diz-que-caso-fernanda-lages-sofre-efeito-csi-114069