Especialista diz 'Vida de perito criminal não é CSI'
Mas para quem se empolga e pensa em ser o novo Gil Grissom, o diretor do ICSP (Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo), Adilson Pereira, dá uma dica.
— Nosso trabalho lida com a realidade. É preciso ter consciência que os seriados são ficções e que neles tudo dá certo. Na vida real nem sempre chegamos à conclusão do crime. Por isso, é preciso ter senso crítico e saber que eles não resgatam a realidade.
No Brasil, a perícia criminal é atribuição dos institutos de criminalísticas e institutos médicos legais, subordinados às polícias técnico-científicas, e apenas aprovados em concursos públicos podem realizá-la.
Após a lei 12.030, de 2009, os editais passaram a especificar a área de formação do candidato, que deve ser bacharel. Segundo Pereira, atualmente são selecionados apenas candidatos das áreas de exatas e biológicas.
Ainda que com menos glamour que nos seriados, a carreira tem atraído pessoas de todas as áreas e idades e atualmente pode pagar até R$ 13 mil em concursos como o da Polícia Federal. O edital de perito criminal prevê 12 vagas para nível superior em ciências contábeis ou ciências econômicas, 19 para engenharia civil e quatro para biomedicina ou ciências biológicas, entre outras áreas. Ao todo, são cem vagas.
De acordo com Mária Márcia da Silva Kesselring, representante do Sinpcresp (Sindicato de Peritos Criminais do Estado de São Paulo), entretanto, faltam profissionais na área.
— Nas duas últimas décadas, os concursos sequer preencheram os cargos vagos existentes. Isso pode prejudicar a atividade dos peritos e, consequentemente, o atendimento à sociedade.
Apesar dos poucos concursos, trabalho não falta. Só em 2011, o ICSP recebeu mais de 800 mil solicitações de perícia. Segundo Pereira, os atuais funcionários não conseguem analisar todos os casos.
— Desse total, conseguimos fazer 644 mil perícias. A maioria é acidentes de carro e homicídios. Histórias de repercussão, como o caso Richthofen ou o Matsugana, são pouquíssimos.
Processo seletivo
Para lidar com esse cotidiano, o perito deve passar por muitas etapas até mostrar que está apto para lidar com todo tipo de crime. Quem quiser entrar na área precisa gostar de pesquisar, ser cuidadoso, detalhista e observador. E, segundo Pereira, não pode ser estabanado.
Primeiro, o candidato precisa passar por provas objetivas, dissertativas e entrega de títulos. Depois, ele é testado na academia de polícia, onde passa por exames físicos e psicológicos.
De acordo com Pereira, os candidatos também passam por uma análise sobre sua conduta pessoal.
— São realizados testes para ver se ele não usa drogas e se teve algum problema policial ou jurídico no passado.
Os aprovados nessas etapas fazem estágio probatório, que pode variar de dois a três anos. Neste período, além de ter o trabalho fiscalizado o tempo todo, o candidato também tem sua vida particular analisada, explica Pereira.
— O perito trabalha na Polícia Científica e está em contato com crimes o tempo todo. Não podemos cometer falhas, por isso é importante que ele proceda na vida pública de acordo com as regras da academia.
Formação continuadaPara cada crime o perito usa uma técnica. Por isso ele precisa se atualizar o tempo todo, com cursos que o ajudem a analisar as provas.
— O perito deve gostar de pesquisar. Em um acidente de carro, por exemplo, ele precisa conhecer o funcionamento dos freios, do airbag e de outros apetrechos.
Os cursos são constantes, explica Pereira. Aulas de levantamento de local do crime, de conhecimentos sobre explosivos, de balística, de química forense, entre outras.
— Somos técnicos científicos e a ciência se baseia na pesquisa. Todo local de crime é uma nova pesquisa.
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