Com 4 homicídios por dia, SP sofre com banalização da 'cultura do confronto'
Para Conectas, o aumento de 96% nas mortes em setembro mostra que a violência e o uso da força letal são o primeiro recurso na solução de impasses em São Paulo
26/10/2012
Os números do mês de setembro batem o recorde histórico na cidade,
desde que a série começou a ser publicada, em janeiro de 2011, e
"revelam um quadro preocupante, onde a violência e o uso da força
aparecem como recurso preferencial para a resolução dos impasses na
maior cidade do País", disse Lucia Nader, diretora executiva da Conectas.
Postos sobre o mapa, os dados confirmam que as maiores vítimas da
violência são os moradores da periferia. As regiões que correspondem aos
distritos policiais de Capão Redondo e Parque Santo Antônio, por
exemplo, respondem, juntas, por 18 homicídios em um mês. Além da
incidência desigual das mortes sobre as comunidades mais afastadas do
centro e desassistidas pelo Poder Público, outra particularidade que se
desprende dos dados é a da incidência das mortes sobre policiais – em
setembro, 5 deles foram mortos.
"Os dados em si já são preocupantes. Mas estamos especialmente
alarmados com a forma como o governo interpreta esses números e reage a
essa realidade. As autoridades da área de Segurança Pública de São Paulo
fazem uso recorrente de um vocabulário de guerra para justificar o uso
da força letal, como se o gatilho fosse, em última instância, o juiz, o
tribunal e a pena que recai na maioria das vezes sobre pessoas pobres,
negras e de periferia", disse Lucia, reforçando que "tanto as chacinas,
justiciamentos e execuções por parte de membros do crime organizando,
quanto os assassinatos cometidos pelos chamados 'motivos fúteis' como
brigas de bar, traição, brigas de trânsito e acertos de contas, mostram o
quanto a morte está banalizada e a vida - que é o maior dos direitos
humanos - está em risco na cidade."
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo,
o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que "a ordem é ir
para cima de criminoso", o que “só reforça ainda mais a espiral de
violência”, de acordo com Juana Kweitel, diretora de Programas da Conectas.
Conectas acredita que modelos mais exitosos de Segurança Pública
têm mostrado que o uso de ações de prevenção, inteligência, ênfase no
aspecto de 'serviço' por parte da polícia, fortalecimento da ouvidoria,
proximidade e identificação com os moradores da cidade, respeito aos
limites no uso da força e maior permeabilidade às críticas num espaço de
diálogo construtivo com acadêmicos, ONGs e movimentos sociais não são
um aspecto menor entre os vetores que incidem na redução do número de
mortes.
http://www.conectas.org/artigo-1/com-4-homicidios-por-dia-sp-sofre-com-banalizacao-da-cultura-do-confronto