Crimes violentos facilitam recuperação de memória olfactiva
Universidade de Aveiro prova importância de odores em contexto forense
2012-04-17
Por Marlene Moura (texto)
As investigadoras Sandra Soares e Sandra Alho (atrás) e uma voluntária durante o estudo.
A psicóloga clínica e uma das autoras do estudo explicou ainda que “é possível codificar informação mnésica [processos de evocação e reconhecimento] e a recuperação da memória olfactiva é facilitada em situações que provocam medo extremo”.
Sandra Soares sustentou também que este elemento (odor) poderá ser explorado em contexto forense e tornar-se “um complemento à investigação criminal”. No entanto, a psicóloga clínica e docente da UA ressalvou que o grande objectivo do trabalho é avaliar o papel do olfacto em situações de crime violento, que apelem ao medo e não propriamente tentar reconhecer criminosos através do odor, já que este é ainda “um estudo prematuro” e "existem os cães polícias" que têm essa tarefa.
Para chegar a estas conclusões, o grupo de trabalho da UA realizou testes que contaram com a participação de dois grupos de 30 voluntários, em que que cada um teria de ver um filme – uns veriam cenas onde um agressor teria cometido um crime violento real, captado por uma câmara oculta e outros assistiriam a um vídeo onde um homem estaria envolvido numa situação emocionalmente neutra.
Situações de medo facilitam reconhecimento de odores.
Taxa de sucesso
A taxa de sucesso de reconhecimento no grupo daqueles que assistiram a cenas violentas foi de 63 por cento, já os voluntários que viram filmes com situações emocionalmente neutras, apenas 43 por cento apontaram correctamente o odor em causa. “A taxa de reconhecimento dos voluntários sujeitos ao visionamento de cenas violentas foi significativamente superior”, sublinhou a investigadora.
E acrescentou: “Como meio de identificação de criminosos, existe o alinhamento visual [em que alegados agressores são alinhados atrás de um vidro para serem identificados pela vítima ou testemunha] e, aqui, fazemos exactamente a mesma coisa, mas com odores, usando diferentes coberturas”.
Em suma, “avaliámos a interacção de situações que geram grandes níveis de ansiedade e medo e o impacto destas na codificação e recuperação da memória olfactiva, já que esta é uma pista que poderá auxiliar no processo de investigação criminal, mas não tem necessariamente de se tratar de odores corporais; contudo, em casos de violações são matéria importante”, concluiu Sandra Soares.
O estudo contou com a colaboração de Mats Olsson, investigador do Instituto Karolinska (Suécia), presente na avaliação dos resultados.
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