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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

PERICIA CRIMINAL E A ARTE

SENSIBILIDADE
Atenção ao detalhe é fundamental na hora de colaborar com as investigações
DILSON PIMENTEL
Da Redação
Quando os peritos chegaram ao local para recolher evidências sobre um delito, uma música era tocada ao piano e foi percebida pelo perito criminal Daniel Araújo, do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves. A informação sonora transformou-se, depois, em mais um indício que, somado a outras pistas investigadas pela Polícia Civil, ajudaram nas investigações. "São detalhes que a sensibilidade artística pode captar", afirma Daniel, que também é músico.
Ele preferiu não dar mais detalhes sobre essa perícia, mas a exemplo de Daniel muitos peritos do "Renato Chaves" são formados em outras áreas do conhecimento, nas quais atuam quando não estão trabalhando no centro de perícias. Barítono, ele lembra que a música desenvolve os dois hemisférios do cérebro. "No momento em que você lê a partitura, você trabalha a identificação de símbolos. Isso mexe com um hemisfério do cérebro", disse. "Na hora em que você está contando o tempo (para o começo da apresentação), mexe com o pensamento matemático - ou seja, com o outro hemisfério do cérebro", completou.
Daniel diz que o músico tem que estar atento à platéia, à orquestra, ao maestro. Essa habilidade de prestar atenção em tudo ao mesmo tempo, ele usa em seu trabalho como perito. "A sensibilidade fica mais aguçada", afirma. Essas características de músico o fazem atento a detalhes que passariam despercebidos a profissionais de outra área de formação.
Daniel Araújo diz que a perícia é uma das atividades mais transversais que conhece, pois lida com Matemática, Física, Química, entre outras ciências, além de ser uma atividade dinâmica, pois não há rotina e muitas vezes os trabalhos são feitos com peritos de outra formação, o que também os enriquece culturalmente.
Para Daniel, a perícia é fundamental para determinar a culpa ou a inocência de um acusado diante da Justiça. Ele pisou no palco pela primeira vez aos 14 anos, em 1984, e trabalha na área de fonética: análise de áudio e de vídeo e de casos de pirataria.
SENSIBILIDADE
Ao fazer o levantamento de um local de crime, a perita criminal Berna Reale observou uma sandália afastada do corpo da vítima. Acostumada a prestar atenção a detalhes, em função de sua atividade como artista plástica, ela não ignorou essa evidência no cenário do assassinato, onde um homem havia sido morto a facadas e teve alguns metros do corpo seccionados. "Havia vestígios de sangue na sandália", lembra ela , um indicativo de que a vítima fugia do agressor. "Em um local de crime, detalhes fazem a diferença", comenta.
Artista plástica há quase dez anos, Berna conheceu o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves a partir de um convite para fazer um trabalho para o Arte Pará, da Fundação Romulo Maiorana, em 2006. Tratava-se de uma intervenção artística no Mercado de Carne, no Ver-o-Peso. A partir daí, Berna passou a ter mais contato com os técnicos do "Renato Chaves", conheceu um pouco o funcionamento do centro e soube do concurso para peritos. "Meu trabalho como artista plástica me levou à perícia", diz.
Berna lembra que os artistas têm o privilégio da sensibilidade apurada. "Em qualquer formação na área da arte você exercita diariamente sua sensibilidade. E a sensibilidade conta muito em um local de crime, pois a perícia é feita de detalhes", afirma. Berna Reale trabalha na perícia de documentos e de material apreendido, como drogas. Ela verifica, também, se certas assinaturas são ou não autênticas. Mas avisa que voltará a fazer o levantamento de local de crime.
O Centro de Perícias Científicas Renato Chaves dispõe de 298 peritos criminais e 82 médicos, informa seu diretor, Orlando Salgado Gouvêa. Prestes a completar 20 anos como perito criminal, ele garante que a perícia criminal paraense destaca-se em âmbito nacional, a exemplo do caso do Real Class (o prédio que desabou em Belém, em janeiro deste ano, matando três pessoas), em que peritos da engenharia legal foram minuciosos na análise e pesquisa do material.
Salgado informoo sobre a tramitação de um projeto de lei para implantar regionais do Centro de Perícias onde houver superintendências da Polícia Civil, o que representa a criação de, ao menos, mais dez regionais somadas às quatro já existentes, com perspectivas de concurso público para atender esta demanda. O CPC Renato Chaves tem dois institutos - o Médico Legal (IML) e o de Criminalística (IC). O IML é responsável pelas perícias médico legais no ser humano em crimes que deixam vestígios. A medicina legal é uma especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina.
Responsável pelas perícias genéricas (específicas), o Instituto de Criminalística (IC) faz mais de 70% das perícias no centro, em diversas áreas. É no IC que se encontra também a maior parte dos equipamentos que utilizam tecnologia avançada na busca de resultados que ajudem a elucidar os crimes, a exemplo das maletas para realização de local de crime, o que há de mais avançado, no Brasil, em se tratando desse tipo de perícia, segundo o diretor do centro.

http://www.orm.com.br/projetos/oliberal/interna/default.asp?modulo=247&codigo=552508