AFP
Análise de insetos ajuda a solucionar assassinatos
A partir de espécies encontradas no corpo humano, estudiosos
podem descobrir a data aproximada da morte e possíveis locais onde o homicídio
teria ocorrido
O encontro de um cadáver levanta inúmeras suspeitas, muitas vezes difíceis de
serem solucionadas diante da falta de pistas e testemunhas. A dificuldade
aumenta se o corpo for encontrado passadas 72 horas da morte, período no qual
geralmente entra em putrefação e médicos legistas passam a ter dificuldades em
dar respostas. Nesse caso, uma opção à investigação é voltar o olhar aos insetos
presentes no cadáver, que podem fornecer pistas valiosas.
Atraídos pelo olfato, os insetos buscam o cadáver para alimentação, reprodução e depósito de ovos. A estimativa é que as primeiras espécies, no caso as moscas, cheguem, em média, 15 minutos depois da morte. Se houver sangramento, a busca é ainda mais rápida. Já no segundo dia também uma espécie de besouro poderá estar presente no corpo, justamente para se alimentar das moscas. Nesse substrato forma-se uma comunidade complexa e surge uma missão e tanto aos estudiosos da área, os entomólogos forenses.
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Quem ouve os conceitos e a aplicabilidade da entomologia forense deve logo se lembrar do seriado norte-americano CSI, investigação criminal. Os estudiosos, porém, reforçam que a realidade é diferente da ficção. “O programa de tevê passa a realidade de maneira exagerada”, diz a doutoranda da UFPR Karine Pinto e Vairo. No dia a dia, o entomólogo forense tem vários desafios e precisa de um conhecimento vasto sobre a fauna e a identificação das espécies.
No Brasil, com a variedade de espécies de insetos, o desafio é ainda maior. Calcula-se existir cerca de 100 mil espécies e, se a encontrada não é conhecida, o pesquisador precisa de mais tempo para dar respostas. Também precisa criá-las em laboratório, e elas nem sempre sobrevivem.
“A realidade é diferente. A gente imagina o herói do CSI, um cara que sabe de inseto a balística, de Direito Criminal a Astronomia. Isso não funciona assim. A política internacional é a de que a polícia judiciária leve as evidências à expertise mais próxima, que está dentro da academia”, diz o professor José Roberto Pujol.
José Roberto Pujol, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília e coordenador do núcleo de entomologia forense da instituição.
Munidos de amostras das espécies retiradas do cadáver e do meio em que foi
encontrado, os estudiosos tentam responder a questões sobre a data aproximada da
morte e possíveis locais onde o crime possa ter acontecido, já que algumas
espécies são mais comuns em determinada área. Para isso, identificam os animais
encontrados e analisam as características, principalmente o ciclo de vida. Se
forem encontradas larvas, é possível criá-las e fazer uma estimativa de quanto
tempo o cadáver está exposto no ambiente.
“Os insetos são as testemunhas da história. Como nesses crimes normalmente não há pessoas que os contem, quem vai contar são os insetos”, diz o professor doutor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Cláudio José Barros de Carvalho, que participa de um grupo de estudos que se dedica ao tema. O núcleo, composto por um colaborador, três professores e quatro alunos, tem uma parceria com o Instituto de Criminalística de Curitiba. Dessa forma, quando possível, alguns dos peritos coletam amostras e as enviam aos alunos, que recebem o material, identificam as espécies e, a partir disso, tentar fornecer respostas.
Na prática
A colaboração gerou o primeiro caso utilizando evidência entomológica para cálculo de intervalo pós-morte no Sul do Brasil, segundo a autora do estudo, a doutoranda Karine Pinto e Vairo. Por meio da identificação de duas espécies encontradas em um cadáver e da criação da larva, foi possível estimar o intervalo pós-morte em cerca de 10 dias. De acordo com Eliane Aparecida Martins, chefe do Setor de Crimes Contra a Pessoa do Instituto de Criminalística de Curitiba, está em fase de formalização um convênio entre o núcleo e o instituto, que não possui um laboratório de entomologia forense.
Analisando o cenário no país, o professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília e coordenador do núcleo de entomologia forense da instituição, José Roberto Pujol, observa que a ciência precisa avançar mais. “Existe ainda resistência dos pesquisadores em trabalhar com a entomologia forense e da polícia judiciária de algumas unidades da federação para receber essa cultura dentro dos quadros da polícia”, diz. São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília são as regiões mais avançadas na área.
Pujol destaca ainda a importância dos estudos e a aplicabilidade deles em várias áreas. Uma pesquisa desenvolvida na universidade pelo pesquisador Marcos Patrício Macedo, por exemplo, identificou, a partir de insetos prensados em um carregamento de maconha, a procedência da droga, no caso, do Paraguai. “É um trabalho de formiguinha, vamos dando cursos, explicando, mostrando que a coisa funciona e publicando artigos”, diz o professor. Afinal, os insetos têm muito a mostrar.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1277562&tit=Analise-de-insetos-ajuda-a-solucionar-assassinatos
Atraídos pelo olfato, os insetos buscam o cadáver para alimentação, reprodução e depósito de ovos. A estimativa é que as primeiras espécies, no caso as moscas, cheguem, em média, 15 minutos depois da morte. Se houver sangramento, a busca é ainda mais rápida. Já no segundo dia também uma espécie de besouro poderá estar presente no corpo, justamente para se alimentar das moscas. Nesse substrato forma-se uma comunidade complexa e surge uma missão e tanto aos estudiosos da área, os entomólogos forenses.
Antônio More/ Gazeta do Povo
Claudio José e seus alunos trabalham com o apoio policial para
pesquisar insetos em cadáveres
Desafios
A realidade da investigação é bem diferente da ficçãoQuem ouve os conceitos e a aplicabilidade da entomologia forense deve logo se lembrar do seriado norte-americano CSI, investigação criminal. Os estudiosos, porém, reforçam que a realidade é diferente da ficção. “O programa de tevê passa a realidade de maneira exagerada”, diz a doutoranda da UFPR Karine Pinto e Vairo. No dia a dia, o entomólogo forense tem vários desafios e precisa de um conhecimento vasto sobre a fauna e a identificação das espécies.
No Brasil, com a variedade de espécies de insetos, o desafio é ainda maior. Calcula-se existir cerca de 100 mil espécies e, se a encontrada não é conhecida, o pesquisador precisa de mais tempo para dar respostas. Também precisa criá-las em laboratório, e elas nem sempre sobrevivem.
“A realidade é diferente. A gente imagina o herói do CSI, um cara que sabe de inseto a balística, de Direito Criminal a Astronomia. Isso não funciona assim. A política internacional é a de que a polícia judiciária leve as evidências à expertise mais próxima, que está dentro da academia”, diz o professor José Roberto Pujol.
“Existe ainda resistência dos pesquisadores em trabalhar com a entomologia forense e da polícia judiciária de algumas unidades da federação para receber essa cultura dentro dos quadros da polícia.”
José Roberto Pujol, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília e coordenador do núcleo de entomologia forense da instituição.
“Os insetos são as testemunhas da história. Como nesses crimes normalmente não há pessoas que os contem, quem vai contar são os insetos”, diz o professor doutor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Cláudio José Barros de Carvalho, que participa de um grupo de estudos que se dedica ao tema. O núcleo, composto por um colaborador, três professores e quatro alunos, tem uma parceria com o Instituto de Criminalística de Curitiba. Dessa forma, quando possível, alguns dos peritos coletam amostras e as enviam aos alunos, que recebem o material, identificam as espécies e, a partir disso, tentar fornecer respostas.
Na prática
A colaboração gerou o primeiro caso utilizando evidência entomológica para cálculo de intervalo pós-morte no Sul do Brasil, segundo a autora do estudo, a doutoranda Karine Pinto e Vairo. Por meio da identificação de duas espécies encontradas em um cadáver e da criação da larva, foi possível estimar o intervalo pós-morte em cerca de 10 dias. De acordo com Eliane Aparecida Martins, chefe do Setor de Crimes Contra a Pessoa do Instituto de Criminalística de Curitiba, está em fase de formalização um convênio entre o núcleo e o instituto, que não possui um laboratório de entomologia forense.
Analisando o cenário no país, o professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília e coordenador do núcleo de entomologia forense da instituição, José Roberto Pujol, observa que a ciência precisa avançar mais. “Existe ainda resistência dos pesquisadores em trabalhar com a entomologia forense e da polícia judiciária de algumas unidades da federação para receber essa cultura dentro dos quadros da polícia”, diz. São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília são as regiões mais avançadas na área.
Pujol destaca ainda a importância dos estudos e a aplicabilidade deles em várias áreas. Uma pesquisa desenvolvida na universidade pelo pesquisador Marcos Patrício Macedo, por exemplo, identificou, a partir de insetos prensados em um carregamento de maconha, a procedência da droga, no caso, do Paraguai. “É um trabalho de formiguinha, vamos dando cursos, explicando, mostrando que a coisa funciona e publicando artigos”, diz o professor. Afinal, os insetos têm muito a mostrar.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1277562&tit=Analise-de-insetos-ajuda-a-solucionar-assassinatos