Terapia Assistida por Animais e Transtornos Mentais – Um pouco da História
Bernadette Serra - PsicoterapeutaVersão para impressão| Enviar para e-mail| Comentar
Terapia Assistida por Animais e Transtornos Mentais
Sabe-se que doenças psíquicas podem ser bastante incapacitantes e podem comprometer o funcionamento social e ocupacional de modo significativo. Em muitos casos, mesmo com a melhora dos sintomas com uso de medicamentos, o indivíduo não consegue retornar ao seu funcionamento normal, podendo se tornar isolado, apático, sem motivação e dependente. Observa-se que, por mais eficaz que sejam os fármacos, o tratamento puramente medicamentoso nem sempre é suficiente para evitar a deterioração que ocorre no indivíduo portador de doença mental grave. Outras técnicas terapêuticas devem ser inseridas a fim de obter melhores resultados. Uma técnica que vem ganhando espaço nas últimas décadas é a Terapia Assistida por Animais (TAA) que consiste no uso de animais como auxiliares no tratamento de doenças físicas e/ou mentais em seres humanos.
Embora pareça uma técnica recente, a companhia de animais como auxiliares terapêuticos em doentes mentais reporta ao século IX em Gheel, Bélgica quando animais como cães, vacas, cavalos e pássaros foram submetidos aos cuidados de indivíduos com deficiência mental que ali residiam. Tais pacientes mostraram melhora na sua condição após o contato com os animais. No século XVIII, benefícios semelhantes foram observados nos pacientes do retiro de York, ao cuidar de animais como coelhos e aves. Nos Estados Unidos, em 1940, cães foram usados terapeuticamente, no Hospital da Força Aere Convalescente, com a finalidade de promover bem estar aos internados. Na década de cinquenta, a psiquiatra Nise da Silveira observou que o contato com cães e gatos melhorava as condições e auxiliava no tratamento de residentes do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro e eram chamados de "co-terapeutas". Nessa época, Nise da Silveira se correspondia com o psiquiatra americano Boris Levinson que, posteriormente, introduziu seu cão na terapia de um menino com problemas psíquicos e notou que a presença do animal contribuiu para estreitar o vinculo terapêutico e contribuir para o tratamento.
A presença de animais em pacientes de instituições psiquiátricas ou portadores de problemas psíquicos tem funcionado como promotor de bem estar desses pacientes. A Terapia Assistida por Animais tem auxiliado na reabilitação de indivíduos esquizofrênicos institucionalizados e demonstrado melhoras na comunicação desses pacientes. Os benefícios da interação com animais vão além de um processo lúdico como também parecem interferir positivamente na neurofisiologia cerebral, com a liberação de endorfinas e outros hormônios que produzem sensação de bem-estar. Desse modo, acredita-se que a Terapia Assistida por Animais possa funcionar como um elemento terapêutico complementar no tratamento de pessoas com transtorno mental, acelerando o processo de recuperação e auxiliando no resgate de suas funções.
“Verifiquei as vantagens da presença de animais no hospital psiquiátrico. O cão dá afeto, trás calor e alegria ao frio ambiente hospitalar. Os gatos têm um modo de amar diferente. Discretos, esquivos, mais afins com os esquizofrênicos na sua maneira peculiar de querer bem” (Nise da Silveira).