Kayke Niz

Campo Grande (MS) – “Na perícia o desafio é conseguir acompanhar a
evolução do crime, visto que a criatividade dos bandidos é cada vez
maior, e que nem sempre conseguimos os equipamentos necessários nesse
mesmo ritmo de ‘evolução’. Mas com ânimo e minúcia conseguimos executar o
trabalho com competência”, assim define a perita criminal Melissa
Tronchini o dia-a-dia da profissão.
Profissão essa que, segundo Melisa poucos, ainda conhecem,
mas que ganhou um pouco mais de visibilidade após os seriados
americanos. “Quando revelo a minha profissão para as pessoas a maioria
diz, ‘Ah, é como naquele seriado, né? O CSI?’ e eu respondo que é
parecido, mas não muito” finaliza em tom descontraído.
Formada em Farmácia, irmã e esposa de perito, Melisa
Tronchini atua na área há dez anos, e ao contrário do que possa ser
imaginado por muitos, ela garante que não é exceção feminina na
profissão, o que ela comprova na própria rotina. “Só aqui somos uma
equipe de 14 peritos, sendo nove mulheres. Como pode se perceber aqui
somos a maioria”, brinca Tronchini.
Segundo a perita, a profissão tem seu atrativo no desafio.
“É um trabalho minucioso, detalhista e perceber os pormenores faz toda a
diferença. É um quebra cabeça que somos incumbidos de montar e é nesse
desafio que está o diferencial da carreira”, explica Melisa.
Quando questionada sobre o fato de ser mulher, ela garante
que as diferenças são mínimas. “Temos vantagem quanto ao fator
paciência e organização. Claro que isso não significa que todos os
homens não possam ter essas qualidades. Mas se comparado em grandes
porções, a mulher certamente se sobressai nesses quesitos”, argumenta a
perita criminal.
A realidade do trabalho
Em sua rotina, ela tem que manusear, dentre outros utensílios, um
equipamento - o espectrômetro infravermelho - cuja função é detectar o
componente químico de maior concentração de entorpecentes apreendidos
pela polícia. “Às vezes utilizamos outro aparelho, o cromotógrafo
gasoso, porém boa parte dos exames é feito aqui mesmo no espectro”, diz
Melissa.
De acordo com Tronchini, mensalmente são feitas mais de 400
análises de entorpecentes, sendo que do total, 80% é cocaína. “O exame
desse tipo de substância é mais comum do que se pode imaginar.
Diariamente a polícia aprende drogas seja nas rodovias, bocas de fumo.
Nossa responsabilidade é analisar a composição do material”, detalha.
Contudo o trabalho da perita não se limita aos
entorpecentes. “Diariamente lidamos com histórias curiosas. Fazemos
exames em medicamentos com suspeita de falsificação ou contrabando, e
também o exame residuográfico [em casos envolvendo arma de fogo], que é
quando verificamos a existência de chumbo na mão do possível atirador”,
conta Melissa.
E dentre tanto exames sempre tem um fato curioso que marca
a profissão. “Um episódio bem inusitado que apareceu aqui foi de uma
vítima que acusava o companheiro de ter tentado matá-la colocando vidro
moído nos alimentos. Tivemos de analisar tudo, desde produtos sólidos,
carnes, até os pastosos, doce de leite, e realmente após muito
trabalho conseguimos constatar que a pessoa estava com a razão”,
relembra a perita.
Mais peritas no assunto

Conseguir retirar o véu dos fatos e detectar a verdade
existente por trás ocorrências. Nesse mundo investigativo o que não
falta são mulheres especializadas na área, como a perita formada em
física, Kalyne Miazato, que mesmo no seu penúltimo mês de gestação não
deixa de lado os deveres e a paixão pelo ofício. “O fato de ter
escolhido um trabalho na área da segurança pública não muda em nada a
minha vida pessoal, pelo contrário. A profissão requer detalhismo e
isto me deixa até mais antenada com os outros setores da minha vida. O
olhar atento a gente aprende a aplicar no trabalho e fora dele”, diz a
perita.
Kalyne vai além e diz que as características femininas
ajudam na hora do expediente. “Sem dúvida ser mulher ajuda. Temos um
olhar mais apurado nos detalhes e isso pode contribuir no trabalho”,
afirma ela.
Mas quando o assunto é o número de colegas homens, a
perita diz que o mercado vem se equilibrando com o passar dos anos. Em
sua sala, por exemplo, são quatro profissionais, sendo todas mulheres.
“Aqui quando começamos havia homens também. Mas com o tempo eles foram
atuar em outras funções”, explica a perita Kalyne.
Analisar a autenticidade de documentação, cheques,
carteira de identidade, de habilitação e até mesmo cartas de suicídio, o
que Miazato define tecnicamente como Análise em Documento
Grafotécnico, são tarefas que fazem parte da rotina dela, que garante
estar contente na escolha que fez.
“Às vezes o fluxo de trabalho é puxado. Houve um período
em que eu dividia as tarefas com apenas uma colega de trabalho, e cada
uma chegou a contabilizar 360 laudos elaborados anualmente. Se
considerarmos todo o tempo que um documento leva para ser clinicamente
avaliado foi um desafio e tanto. Mas eu gosto do que faço me sinto
feliz na profissão. É uma carreira que requer curiosidade pelo ofício e
isso tenho como profissional e mulher”, conclui a perita criminal
Kalyne Miazato.
Aline Lira
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