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sexta-feira, 9 de março de 2012

Perícia: detalhes e persistência em um trabalho desempenhado por mulheres








Por Redação Pantanal News/Karina Lima-Notícias.MS
Kayke Niz
          Campo Grande (MS) – “Na perícia o desafio é conseguir acompanhar a evolução do crime, visto que a criatividade dos bandidos é cada vez maior, e que nem sempre conseguimos os equipamentos necessários nesse mesmo ritmo de ‘evolução’. Mas com ânimo e minúcia conseguimos executar o trabalho com competência”, assim define a perita criminal Melissa Tronchini o dia-a-dia da profissão.

           Profissão essa que, segundo Melisa poucos, ainda conhecem, mas que ganhou um pouco mais de visibilidade após os seriados americanos. “Quando revelo a minha profissão para as pessoas a maioria diz, ‘Ah, é como naquele seriado, né? O CSI?’ e eu respondo que é parecido, mas não muito” finaliza em tom descontraído.

           Formada em Farmácia, irmã e esposa de perito, Melisa Tronchini atua na área há dez anos, e ao contrário do que possa ser imaginado por muitos, ela garante que não é exceção feminina na profissão, o que ela comprova na própria rotina. “Só aqui somos uma equipe de 14 peritos, sendo nove mulheres. Como pode se perceber aqui somos a maioria”, brinca Tronchini.

           Segundo a perita, a profissão tem seu atrativo no desafio. “É um trabalho minucioso, detalhista e perceber os pormenores faz toda a diferença. É um quebra cabeça que somos incumbidos de montar e é nesse desafio que está o diferencial da carreira”, explica Melisa.

           Quando questionada sobre o fato de ser mulher, ela garante que as diferenças são mínimas. “Temos vantagem quanto ao fator paciência e organização. Claro que isso não significa que todos os homens não possam ter essas qualidades. Mas se comparado em grandes porções, a mulher certamente se sobressai nesses quesitos”, argumenta a perita criminal.

               A realidade do trabalho 
           Em sua rotina, ela tem que manusear, dentre outros utensílios, um equipamento - o espectrômetro infravermelho - cuja função é detectar o componente químico de maior concentração de entorpecentes apreendidos pela polícia. “Às vezes utilizamos outro aparelho, o cromotógrafo gasoso, porém boa parte dos exames é feito aqui mesmo no espectro”, diz Melissa.

            De acordo com Tronchini, mensalmente são feitas mais de 400 análises de entorpecentes, sendo que do total, 80% é cocaína. “O exame desse tipo de substância é mais comum do que se pode imaginar. Diariamente a polícia aprende drogas seja nas rodovias, bocas de fumo. Nossa responsabilidade é analisar a composição do material”, detalha.

            Contudo o trabalho da perita não se limita aos entorpecentes. “Diariamente lidamos com histórias curiosas. Fazemos exames em medicamentos com suspeita de falsificação ou contrabando, e também o exame residuográfico [em casos envolvendo arma de fogo], que é quando verificamos a existência de chumbo na mão do possível atirador”, conta Melissa.

             E dentre tanto exames sempre tem um fato curioso que marca a profissão. “Um episódio bem inusitado que apareceu aqui foi de uma vítima que acusava o companheiro de ter tentado matá-la colocando vidro moído nos alimentos. Tivemos de analisar tudo, desde produtos sólidos, carnes, até os pastosos, doce de leite, e realmente após muito trabalho conseguimos constatar que a pessoa estava com a razão”, relembra a perita.

                 Mais peritas no assunto 


             Conseguir retirar o véu dos fatos e detectar a verdade existente por trás ocorrências. Nesse mundo investigativo o que não falta são mulheres especializadas na área, como a perita formada em física, Kalyne Miazato, que mesmo no seu penúltimo mês de gestação não deixa de lado os deveres e a paixão pelo ofício. “O fato de ter escolhido um trabalho na área da segurança pública não muda em nada a minha vida pessoal, pelo contrário. A profissão requer detalhismo e isto me deixa até mais antenada com os outros setores da minha vida. O olhar atento a gente aprende a aplicar no trabalho e fora dele”, diz a perita.

              Kalyne vai além e diz que as características femininas ajudam na hora do expediente. “Sem dúvida ser mulher ajuda. Temos um olhar mais apurado nos detalhes e isso pode contribuir no trabalho”, afirma ela.

              Mas quando o assunto é o número de colegas homens, a perita diz que o mercado vem se equilibrando com o passar dos anos. Em sua sala, por exemplo, são quatro profissionais, sendo todas mulheres. “Aqui quando começamos havia homens também. Mas com o tempo eles foram atuar em outras funções”, explica a perita Kalyne.

              Analisar a autenticidade de documentação, cheques, carteira de identidade, de habilitação e até mesmo cartas de suicídio, o que Miazato define tecnicamente como Análise em Documento Grafotécnico, são tarefas que fazem parte da rotina dela, que garante estar contente na escolha que fez.

              “Às vezes o fluxo de trabalho é puxado. Houve um período em que eu dividia as tarefas com apenas uma colega de trabalho, e cada uma chegou a contabilizar 360 laudos elaborados anualmente. Se considerarmos todo o tempo que um documento leva para ser clinicamente avaliado foi um desafio e tanto. Mas eu gosto do que faço me sinto feliz na profissão. É uma carreira que requer curiosidade pelo ofício e isso tenho como profissional e mulher”, conclui a perita criminal Kalyne Miazato.
Aline Lira

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