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sábado, 31 de março de 2012

ACONTECE EM PORTO ALEGRE - VOCE CONHECE UM DOENTE MENTAL URBANO !!!

Hospital psiquiátrico

As reportagens recentes sobre o Hospital Psiquiátrico São Pedro, de Porto Alegre, seus pacientes, institucionalizados ou não, suas condições técnico-operacionais de funcionamento descortinam uma realidade sobre a qual a sociedade necessita trazer para si a discussão. Diversos fatores, entre os quais os culturais, escreveram na história deste hospital um período marcado por uma população de internos expressiva, que com medidas como a regionalização da atenção à saúde mental foi reduzida sobremaneira.
Outro fator, de natureza social, nos faz lembrar que a sociedade e o próprio núcleo familiar têm dificuldade em lidar com o doente mental, instigado, muitas vezes, pelo preconceito e estigma da doença e a discriminação dela decorrente.
Os doentes mentais que ainda se encontram internados no Hospital Psiquiátrico São Pedro, chamados de moradores, lá estão em sua grande maioria pela falta de algum vínculo familiar. Outros que em nada se beneficiam com a terapêutica psiquiátrica nosocomial, os portadores de paralisia cerebral, lá recebem os cuidados de maternagem (cuidados técnicos de alimentação, higiene, vestuário e carinho) de que tanto necessitam.
Cabe não se perder de vista que a doença mental em determinadas situações demanda assistência médica hospitalar em ambiente próprio e especializado. É o caso dos pacientes em fase aguda da doença que lá estão, temporariamente, internados. Com a reforma da assistência psiquiátrica, leitos psiquiátricos vêm sendo fechados e novas modalidades e redes terapêuticas, de resultados duvidosos, são postas em prática com o propósito, entre outros, de desospitalizar, na tentativa de conquista de autonomia e inclusão social desses doentes.
Nesse cenário, o Hospital São Pedro passou a “teimar” em permanecer com as suas portas abertas. Insiste em cumprir a missão de assistir aqueles doentes mentais que lá se encontram e servir de polo formador de recursos humanos para o setor de saúde mental. Aprimorou-se na produção de conhecimento pelo ensino e pesquisa, tornando-se referência pela disseminação de sua expertise (polo de capacitação) no atendimento à drogadição por crack.
Querem retirar os doentes mentais moradores do São Pedro. Mas para onde irão e em que condições de cuidados estarão submetidos? Estudo do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (2011) concluiu que os Serviços Residenciais Terapêuticos Morada São Pedro, em face da realidade da Vila Cachorro Sentado/Vila São Pedro, coloca em xeque o alcance dos objetivos de reinserção social, liberdade e retomada da autonomia dos doentes mentais transferidos para esses serviços substitutivos, entre outros propósitos alvo da reforma institucional no setor médico-psiquiátrico. Registra a pesquisa que a taxa média mensal de ocupação desses serviços substitutivos, tomada a totalidade de sua capacidade instalada, é da ordem de 50%. Outra questão: por que, então, os moradoes do hospital não foram transferidos até hoje?
Lá na vila, local reconhecidamente de exclusão e dominado pelo narcotráfico, pode-se estar não só colocando em risco a vida desses doentes como impondo-lhes uma nova e moderna forma de exclusão.

César Augusto Trinta Weber Médico mestre em Educação e doutor em Ciências pelo Depto. de Psiquiatria da Unifesp