Perícia Criminal anula laudo papiloscópico | |
Laudo do Instituto de Criminalística diz que única prova material que ligaria filha de ministro à cena do crime é nula. |
Um
laudo de vinte páginas, produzido pelo Instituto de Criminalística (IC)
da Polícia Civil, jogou por terra a única prova material que ligaria a
arquiteta Adriana Villela ao assassinato do pai, o ex-ministro do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela. Assinado por
quatro peritos, o laudo, encomendado pelo Tribunal do Júri de Brasília,
diz que é nula, por total inconsistência técnica, a perícia oficial do
Instituto de Identificação (II), que colocava a arquiteta junto com os
assassinos na cena do crime.
Segundo
a perícia do II, digitais da arquiteta colhidas pela polícia teriam
datação entre 26 e 30 de agosto de 2009. Villela foi morto em casa junto
com a mulher, Maria e a empregada do casal, Francisca Nascimento, em 28
de agosto de 2009. Eles receberam 73 facadas. A contraprova do IC, à
qual o Estado teve acesso, diz que o método de datação
usado "é experimental, não aceito legalmente como técnica forense e está
eivado de vícios e inconsistências", não servindo como prova.
O
documento é taxativo: "Os peritos concluem que (...) o trabalho
realizado pelo II não possui sustentação técnico-científica suficiente
para tecer conclusões a respeito da idade do fragmento de impressão
papiloscópica questionado", atesta. Segundo o IC, há na metodologia do
primeiro laudo "deficiências e dados inconsistentes" com a escala e
precisão dos equipamentos utilizados. "Ainda não há metodologia capaz de
determinar de forma razoável a idade de impressões".
Para
a defesa da arquiteta, não houve surpresa. "Eu sempre desconfiei que
não passava de uma farsa para esconder a incompetência da polícia em
desvendar o crime", afirmou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro,
o Kakai. "Houve má fé e indução ao erro no primeiro laudo", enfatizou.
Adriana admitiu ter estado na casa dos pais antes do dia 13 de agosto,
não na data indicada pela perícia do II.
Kakai
pediu rigorosa investigação da Justiça por acreditar que a delegacia
encarregada do inquérito, a Coordenação de Investigação dos Crimes
Contra a Vida (Corvida), interferiu dolosamente na produção de provas
para confirmar a qualquer custo a tese de que Adriana é mandante da
morte dos pais. A Defensoria Pública também pediu a investigação do
caso, que será analisada pelo Tribunal do Júri.
O
promotor de Justiça, Maurício Miranda, que denunciou Adriana à Justiça
como mandante do crime, não se deu por satisfeito e pedirá explicações à
Direção Geral da polícia. Ele admitiu que houve falhas no inquérito e
que, ao final da fase de instrução do processo, vai reabrir as
investigações para esclarecer dúvidas e indiciar outros possíveis
cúmplices do crime, até agora de fora.
Segundo
ele, a direção da polícia errou ao mandar fazer a contraprova no IC e
alega que a defesa tira proveito dessa contradição para favorecer
Adriana. "Ela estava na cena do crime e há fortes evidências de que
mandou matar os pais porque tinha motivação financeira", garantiu o
promotor.
Marcado
por uma sucessão de erros de investigação, o processo está em fase
final de instrução no Tribunal do Júri. Além de Adriana, acusada de
mandante, figuram como réus três autores materiais: Leonardo Campos
Alves, ex-porteiro do prédio onde o casal vivia, seu sobrinho Paulo
Cardoso Santana e um cúmplice, Francisco Mairlon Aguiar, que teriam dado
as facadas nas vítimas. No início, eles alegaram que mataram para
roubar, mas depois passaram a implicar a filha do casal.
Em
30 meses de idas e vindas, foram presas 14 pessoas, dez delas soltas
por falta de provas. Acusados foram torturados para confessar culpa e
até uma chave do apartamento do casal assassinado foi "plantada" na casa
de inocentes para fabricar culpados. Até uma vidente foi incluída nos
autos, com supostas mensagens psicografadas do ex-ministro apontando os
criminosos. Adriana chegou a ser presa duas vezes e responde ao processo
em liberdade.
Em
depoimento prestado hoje, a delegada Deborah Menezes, que chegou aos
criminosos ao seguir por conta própria uma pista passada por um
ex-detento, disse que não tem como assegurar se Adriana está ou não
envolvida no crime, porque ficou pouco tempo no caso e foi afastada pela
direção da Polícia. Mas revelou que interrogou várias vezes Leonardo,
que lhe garantiu se tratar de latrocínio.
"Cansei
de perguntar se havia mandante e ele sempre disse que não", relatou a
delegada. Ela disse que citou nominalmente Adriana, indagando se ela
esteve na cena do crime, ao que o criminoso respondeu: "Se ela entrasse
lá, eu a mataria do mesmo jeito, porque ela é arrogante e atrevida".
Depoimentos
de peritos que fizeram a coleta de impressões no dia 31 de agosto de
2009, quando os corpos foram achados, já haviam revelado que, por
"barbeiragem" de um iniciante, digitais colhidas na portaria foram
misturadas indevidamente com as colhidas dentro do apartamento.
O Estado de São Paulo