Páginas

sábado, 15 de outubro de 2011

DIGITAIS - INDICIOS DEIXADOS NO LOCAL DO CRIME - ( da redação - Matéria enviada pelo colaborador Dr JOÃO CARNIDE ao site Pericias Criminais Tecnologia do Bem )

Por Luigi Jorio, Lausanne, swissinfo.ch

O Instituto de Polícia Científica da Universidade de Lausanne (oeste), criado há um século, foi a primeira escola acadêmica de ciência forense do mundo e uma das raras na Europa.

Os indícios deixados no local do crime fazem parte do trabalho cotidiano de seu diretor, Pierre Margot.

 

A impressão digital é utilizada como instrumento de investigação desde o século 19.
A impressão digital é utilizada como instrumento de investigação desde o século 19. (Keystone)

Pierre Margot, 61 anos, é considerado um dos maiores especialistas mundiais da impressão digital. Sua competência foi reconhecida pela Academia Americana de Ciência Forense, que lhe atribuiu a medalha Douglas M. Lucas 2011, a “distinção mais prestigiosa em ciência forense”, segundo um comunicado da Universidade de Lausanne.

“O delito perfeito não existe”, afirma Pierre Margot, em seu escritório. “Mas a investigação perfeita existe”, acrescenta, com um sorriso.


swissinfo.ch: Quais são as técnicas para recolher e identificar a impressão digital?

P. M.: Existem diversos métodos, físicos ou químicos e a escolha depende do tipo de superfície e da história do suspeito que deixou os traços. A metodologia tradicional consiste em espalhar na impressão um pó especial.

Podemos também envolver uma impressão com água provocando uma suspensão capaz de tirar a gordura deixada na impressão. Essa é uma técnica desenvolvida na Austrália que permitiu, entre outros, identificar os autores do atentado ao Rainbow Warrior nos anos 1980. Descobriu-se então que agentes tinham colocado uma bomba no navio do Greenpeace.

Podemos ainda utilizar a luz para destacar os aminoácidos segregados pelo suposto criminoso. Nosso instituto foi o primeiro a elaborar a técnica baseada na reação anticorpo-antigênico.

swissinfo.ch: A impressão digital é infalível ou tem uma margem de erro?

P. M.: O traço deixado é uma representação do desenho da ponta do dedo. Quanto maior a qualidade do traço, menor é a margem de erro. Mas o erro não está no traço, mas na interpretação. Vimos isso depois dos atentados de Madri, em 2004: sobre uma bomba que não explodiu foram encontradas impressões digitais. O FBI consultou seu banco de dados e chegou a um advogado de Oregon. Duas semanas depois, eles se deram conta do erro colossal.

Pierre Margot, diretor do Instituto de polícia científica de Lausanne
Pierre Margot, diretor do Instituto de polícia científica de Lausanne (unil.ch)

swissinfo.ch: De que modo a introdução dos testes de DNA, dez anos atrás, mudou seu trabalho?

P. M.: O DNA é um método novo para identificar a fonte de um traço. É uma espécie de revolução porque, teoricamente, basta uma célula para chegar a uma identificação. Isso permitiu relacionar casos que inicialmente não havíamos feito obrigatoriamente. O aspecto negativo é que em diversos países a procura de outros indícios foi colocada de lado. O DNA é uma prova muito interessante, mas sozinha não é suficiente.

swissinfo.ch: Estou no seu escritório há quase uma hora. Que indícios vou deixar de minha passagem?

  P. M.: Na sua cadeira certamente ficam migalhas de fibra de tecido, células epidérmicas, algum pelo e traços de saliva. De mim, pode-se encontrar pó de minha mesa e traços de um aperto de mão. Seria difícil convencer um juiz que você não colocou os pés aqui !

Luigi Jorio, Lausanne, swissinfo.ch
Adaptação: Claudinê Gonçalves